quarta-feira, 4 de abril de 2007

"O homem e a obra " - sobre Trindade Coelho

Transcrição do documento:
“Trindade Coelho, o Homem e a Obra” – Autor: Alberto Lopes

É um belo estudo, que se lê de um fôlego, quase como um conto de Trindade Coelho.
Nele se explica a génese de um dos maiores cultores da nossa língua e se fala dos seus valores perenes. O autor colocou-se num ponto de vista talvez inédito e estuda um Trindade Coelho que não conhecíamos através das suas raízes transmontanas.
Para Alberto Lopes, Trás-os-Montes explica Trindade Coelho e, por sua vez, o escritor explica a terra. Aquela província não se inscreve, apenas, na ceridão de nascimento de Trindade Coelho, mas acompanha-o na vida toda como realidade presente ou subjacente. De tal modo que, para o Alberto Lopes, a originalidade do autor de “Os Meus Amores”, está justamente na sua fidelidade ao “transmontanismo”.

O autor pretende fugir aos lugares-comuns, quando fala da realidade transmontana, apresentando-a como um modo de estar no Mundo, quer dizer, como uma cultura.

A obra de Trindade Coelho reflectiria, portanto, não apenas as alegrias sãs e simples da aldeia, o drama da sua vida e da sua religiosidade bárbara, mas sobretudo a maneira como os problemas da vida (da política, da emigração, da cultura popular, do serviço militar, do trabalhgo e do amor), são encarados por aqueles que nasceram “para lá das fragas do Marão até à raia de Espanha”.
Pela maneira como soube manter a sua sensibilidade original (“cheiro a terra, que eu bem sei, mas porque nasci dela e não renego a mãe”), e solidarizar-se com a vida da sua terra, Trindade Coelho não é um escritor que fala de Trás-os-Montes, mas um transmontano que fala de si, fala dos outros. E os outros são, antes do mais, a sua comunidade de sangue. Aí está, decerto,o segredo da sua veia emotiva, da carga afectiva que transparece em seus livros.

Quer descreva tipos da sua terra natal, quer aborde problemas teóricos de política, vida académica ou alfabetização do povo, Trindade Coelho é sempre um homem que fala com o coração nas mãos. À sua frente vê homens sempre e não categorias. E é por isso que a sua mensagem permanece actual.

Alberto Lopes descreve, por exemplo, o que foi a actividade de Trindade Coelho no campo da educação popular. Não serão agora idênticas as circunstâncias históricas. Portugal já não é hoje um país de cinco milhões de habitantes, em que quatro milhões não sabem ler – “ e no outro milhão não há mil que saibam ler por alto, isto é, com inteligência e coração.” Também já não é certo que o analfabetismo seja a prinicipal causa da criminalidade, como ele dizia no seu tempo (no distrito de Bragança, de 1891 a 1895, contou 2836 condenações nos tribunais, sendo2185 de analfabetos). É preciso dar às crianças e ao povo “lições de coisas, como ele dizia, “Ensino prático que se possa e deva ministrar nas escolas primárias e populares, acumulado à agricultura, à indústria, ao comércio e à vida marítima e colonial”.
Igualmente curiosos são os capítulos sobre a “técnica do conto”, a “temática de Trindade Coelho e, sobretudo, o capítulo de análise literária de “Os Meus Amores”.

Por fim Alberto Lopes encerra o seu pequeno livro com um estudo sobre o estilo e os regionalismos de Trindade Coelho, incluindo um glossário de expressões típicas e uma bibliografia exaustiva da sua obra.

O autor não escreveu um livro de tomo nem uma raridade de biblioteca. Mas fez um trabalho sério, que, na sua modéstia, é para ser lido.

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