quinta-feira, 26 de abril de 2007

Poema dedicado à mãe que faleceu em 1954

Quando o silêncio cai sobre mim
Ouço-te os passos tímidos
E o teu rufar de dedos
A medo
Na porta do meu quarto ;
E tu vens depois
Como uma lenbrança
Colocas-te ao meu lado
E todo o silêncio é mais profundo

Só não sei , mãe
Só não sei o que tu pensas
O que tu pensas de mim
Que só faço o que não quero
E longe pressinto, no meu desencanto,
A tua desaprovação.
E vejo-te triste como uma censura
Meneando a cabeça tão a teu jeito
Como numa impossível mudança
Numa conformação.

Mas ouve ,mãe
Ouve-me até ao fim sem olhos de sofrimento

Sem menear a cabeça
Sem remoques, sem desprezos pelas minhas ninharias

Ouve até ao limite das tuas forças
Até não poder conter-te de impaciência
Até poderes suportar
A voz que tu criaste e grita já
Como um processo no silêncio do meu pensar ;
Deixa a música por um momento
Deixa-a e despreza-a como parece que me desprezas

Deixa-me ouvir a voz das minhas culpas

Mas ouve ,mãe !
Eu fui uma criança sem carinhos
Tu sabes
Mas eu fui uma criança como as outras
Com desejo de brinquedos que eu fazia, afinal.
Com o sonho do irrealizado
Ou com o sonho de ver por dentro
Aquilo que os outros tinham realizado !
Eu fui assim ,um ser diferente
Mas pensava e sentia.

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