sexta-feira, 27 de abril de 2007

Poemas

São longos os teus cabelos
Longa a saudade de alguém...
Nos teus olhos, estou a vê-los,
Os olhos da minha mãe.

Da minha mãe, adorada
Nos teus confundo o olhar
Os teus olhos são um sonho
Os dela um pesar.

Chorar em verso, cantar...
Lembrar em sonho escrevendo...
A vida me está devendo
Mais vida pr'a te adorar!

13.11.1968

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Loucura - Poema datado de Maio de 1948



Loucura

Ansiedade, é tudo quanto sinto.
O meu coração deseja só viver.
Quando a mim falo, parece-me que minto
Vejo que o meu destino hei-de esquecer.

Quando entro em mim, e vejo por instinto
Quanto já fui e quanto sou agora
Eu queria ser como já fui outrora
Raio de luz que agora vejo extinto.

Mas se ao destino tais causas vou buscar
A recompensa nem sempre me consola,
Antes atado a mim a ciciar
Sinto que me pesa esta cabeça tola.

Ora desvairo, ora, de génio um raio,
Me ilumina e me faz como antes era.
Já fui Outono, Inverno, Primavera,
Vede, leitores, em que abulia eu caio!

Ansiedade, é tudo quanto sinto
Revolta e medo, só do cruel destino
Porque ignoro, porque desatino
A tormenta em meu cérebro pressinto

Poema dedicado à mãe que faleceu em 1954

Quando o silêncio cai sobre mim
Ouço-te os passos tímidos
E o teu rufar de dedos
A medo
Na porta do meu quarto ;
E tu vens depois
Como uma lenbrança
Colocas-te ao meu lado
E todo o silêncio é mais profundo

Só não sei , mãe
Só não sei o que tu pensas
O que tu pensas de mim
Que só faço o que não quero
E longe pressinto, no meu desencanto,
A tua desaprovação.
E vejo-te triste como uma censura
Meneando a cabeça tão a teu jeito
Como numa impossível mudança
Numa conformação.

Mas ouve ,mãe
Ouve-me até ao fim sem olhos de sofrimento

Sem menear a cabeça
Sem remoques, sem desprezos pelas minhas ninharias

Ouve até ao limite das tuas forças
Até não poder conter-te de impaciência
Até poderes suportar
A voz que tu criaste e grita já
Como um processo no silêncio do meu pensar ;
Deixa a música por um momento
Deixa-a e despreza-a como parece que me desprezas

Deixa-me ouvir a voz das minhas culpas

Mas ouve ,mãe !
Eu fui uma criança sem carinhos
Tu sabes
Mas eu fui uma criança como as outras
Com desejo de brinquedos que eu fazia, afinal.
Com o sonho do irrealizado
Ou com o sonho de ver por dentro
Aquilo que os outros tinham realizado !
Eu fui assim ,um ser diferente
Mas pensava e sentia.

Críticas publicadas sobre a obra literária













Correspondência diferenciada



























segunda-feira, 23 de abril de 2007

domingo, 22 de abril de 2007

OBJECTOS PESSOAIS - NA NOSSA MEMÓRIA

Autorização de Estacionamento no parque do SNI


Vestiu sempre com elegância, punhos e colarinhos bem vincados... esta gravata de seda italiana foi a última (comprada na Celinda- casa de modas da Rua Almeida e Sousa, em Campo de Ourique)





Pequeno Missal oferecido por sua mãe para a cerimónia da 1ª comunhão. Capa em cabedal, gravado a ouro







Uma velha caixa de cigarros du MAURIER, a marca que J. Alberto Lopes sempre fumou... com elegância









Busto feito em gesso... pintado posteriormente para manter a escultura intacta







Cana esculpida com um pequeno canivete, para entreter as horas











De qualquer instrumento fazia música... de qualquer canivete saía uma escultura...






















Nunca soube o que trouxe esta caixa até nós. Que vinha lá dentro? Não imagino. Já a conheci quando se guardava numa gaveta e nela se guardavam talões de cheques, clips, pequenos lápis. Conserva-se ainda como local onde se guarda uma haste de uns óculos que já não existem, o último lápis usado para sublinhar, o escantilhão verde com que se escreviam títuloas à mão em tardes de encadernação... Fidalgos que conversam e guardam um busto!










Interior da caixa com alguns objectos pessoais... o escantilhão verde servia para desenhar letras nos livros que encadernava manualmente... a bolsa dos óculos resta vazia... em cabedal castanho... sobreviveu...







Sobre uma secretária feita pelo próprio num período de férias, e que existe ainda como propriedade do filho mais novo, repousava este objecto ao qual não sei atribuir um nome. Tem incrustações em prata e madre-pérola, o resto é madeira que resistiu ao tempo.





De cada um dos lados um tinteiro escondido por uma pequena tampa que levanta. A meio o rectângulo onde se guardava o arredondado mata-borrão que era invariavelmente cor-de rosa. E à frente, bem visível, o espaço onde deveria repousar a caneta, que foi sempre uma parker castanha, de tampa dourada, de tinta permanente.
Sindicato Nacional de Jornalistas- A carteira de Jornalista- dimensões pequenas, capa de cabedal gravada a oiro- Indicações preciosas... cumpriu algumas funções....